sábado, 10 de setembro de 2016

Somos todos ParaOlímpicos! Mesmo sem sabermos. E por isso limitados somos!


Gazy Andraus[1]

Realizam-se desde o dia 07 aos 18 de setembro de 2016 as ParaOlimpíadas.
Antes que alguém me corrija, na verdade, segundo as regras ortográficas da língua portuguesa, não se retiram as vogais iniciais do segundo elemento, conforme explica o próprio Pasquale Cipro Neto (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2016/09/1811218-paraolimpiada-ou-paralimpiada.shtml), sendo errôneo, portanto, aplicar o termo "paralimpíada". Mas o que houve foi uma padronização imposta pelo Comitê Internacional Olímpico aos países lusófonos. Portanto, posso usar tranquilamente tanto paralímpico como paraolímpico (em que este segundo, na verdade, é que está correto).
Feita a explicação, escrevo essa resenha, ainda que não morra de amores por transmissões esportivas televisivas (embora goste e pratique esportes, não aprecio assisti-los), e o faço porque havia já previsto que as TVs de canais "abertos" (que em breve serão apenas digitais na transmissão nacional) não transmitiriam a abertura dessas Paraolimpíadas (advertindo-vos que só possuo a TV aberta e acabei com minha TV "a cabo")! E porque e como previ isso? Simples: associação racional cartesiana hemisferial da porção cerebral esquerda com a direita, intuitivo-criativa e sensível!  Obviamente não tenho como comprovar que previ, à exceção que cogitava tais pensamentos comigo dias antes desse evento começar, concluindo que, se nas Olimpíadas tivemos overdose televisiva, as TVs não estariam muito solícitas a repetirem as doses, para que não modificassem em muito novamente sua grade de programação, a fim de não perderem o público, o qual por sua vez  não estaria tão disposto a assistir o que para ele é um arremedo de olimpíada (não é pensamento de todo meu, mas é como pensam, tenho certeza - todavia, sim, eu penso um pouco assim: ora, as Olimpíadas são o supra-sumo dos esportes, então, as paraolimpíadas são de qualidade inferior, e portanto, não me farão ter vontade de vê-las tanto - isso se eu gostasse de ver desportos pela TV, como já lembrei-vos que não - diferentemente da grande massa da população que gosta, mas como disse, torce o nariz para eventos, digamos, menores como esses jogos paralelos). Ademais, com isso, não perderiam pontos no IBOPE. Porém, eu soube depois que apenas a Rede Globo seria a TV comercial detentora de poder transmitir esses jogos inclusivos, mas igualmente tive conhecimento de que a TV Cultura poderia fazê-lo mas também se absteve (apenas a TV Brasil, dos canais ditos abertos, ao que parece, transmitiu a abertura e transmite os jogos agora).

Mas se não me interesso por desportos televisivos, porque reclamo? Porque faço parte da sociedade e, embora não faça muita questão, admiro os esforços de pessoas que superam seus limites e, mais ainda, superam suas deficiências, e prevendo que haveria essa falta de respeito para com elas, decidi observar e depois escrever para tentar admoestar a sociedade de que está olhando muito para seu próprio umbigo (pensando ser seu cérebro ou coração!). Eu mesmo quase não vi os jogos olímpicos, mas o pouco que assisti da abertura me sensibilizou (apesar de que o Brasil não é só o Nordeste, já que centraram foco nele, talvez para devolver um pouco do que tem sido malversado e abusado por décadas, bem como os preconceitos etc). Portanto, em verdade continuada, ainda estava disposto a ver um tanto da abertura para averiguar como o Brasil resolveria isso, já que brindou a todos com uma bela abertura das Olimpíadas (que nem por isso, esqueço-me de criticar por elas terem ocorrido em nossas terras, já que ainda somos terceiro ou quarto mundo nas áreas de educação e principalmente saúde, na qual faltam materiais e assistências à população que desfalece nos corredores de hospitais e instituições de saúde). Pois bem, vi um pouco das Paraolimpíadas após sua abertura, quando a poderosa Rede Globo reapresentou de forma editada ao fim de noite (com o magistral maestro João Carlos Martins - escolha certeira já que ele mesmo superou uma deficiência em suas mãos após cirurgia) e podia ter visto mais antes, se tivesse o canal de TV mostrado na íntegra e no horário correto e ao vivo a abertura.
(Fonte: http://chuteirasforadefoco.blogspot.com.br/?expref=next-blog)
Mas o que me causa indignação total e repulsa é ver o paradoxo de nossa sociedade que se diz inclusiva e humana. Onde está isso, quando nenhum dos canais abertos apresenta a abertura de tal evento, negando o valor que diz dispender aos que têm deficiências e querem superá-las? Onde está toda esta "boa vontade", traduzida agora em falácia e mentira que se expõe fartamente a nossos olhos (cegos, pois mesmo eu podendo enxergar, não pude ver)?
Parabéns ser humano, cuja máscara cai de vez e mostra que seu interesse não é mesmo o auxílio a outrem que costuma bradar em forma de (falso) socorro! E parabéns, redes de TV (principalmente a que se diz do governo do Estado de São Paulo - mas esta não sintoniza em minha modesta antena), e principalmente à Rede Globo, que - como li no facebook, recebeu sábias críticas agora - já que finge querer ajudar crianças no seu show auto-egóico intitulado "Criança-Esperança" (mas que nele cobra do cidadão além de um valor mínimo estipulado, as ligações telefônicas e mais impostos para nosso benquisto governo, seja lá qual ele for, sem que nenhuma mídia questione isso tudo!).
Você, Rede televisiva de concessão Globo, e vocês TVs outras, e nós, sociedade, mostramos quem somos realmente: aproveitadores, que só nos movemos se valer o interesse - vide a foto que a própria Rede pôs com seus atores simulando deficiências para chamar a atenção da população...para um evento que não transmitiu (afinal, não vou mudar minha programação para um evento menor que as Olimpíadas, e perder meu rebanho que assiste minhas novelas e outras programações, já sabendo que as Paraolimpíadas não são tão "importantes" assim, pois que só trazem pessoas que não são tão famosas e que têm algumas deficiências, cujas performances serão bem distintas das consagradamente olímpicas etc etc etc).
Tão falsos como o Canal que os anunciaram
(Fonte: http://www.joaoalberto.com/2016/08/24/cleo-pires-e-paulo-vilhena-estrelam-campanha-sobre-paralimpiadas-e-causam-reacao-negativa/cleo-pires-paulo-vilhena-paralimpiada-3/)
Enfim, fico péssimo em saber que faço parte desta sociedade que não se questiona, que não delibera e que acata imposições de outrem ("Paralimpíada" por que? Eu falo ParaOlimpíada, pois estou gramaticalmente amparado).
E assisto se quiser, claro. Mas não me deram chance de assistir ou não, apenas de "não", caso quisesse (por causa das quantias em dinheiro que querem receber). Porque pensaram nos números. Mas nos das pessoas numerosas não participantes do evento desportivo tido como inclusivo (mas exclusivamente televisionado) que quereriam ver a programação normal. Que não quereriam ver pessoas com "limitações"  num "pseudo-esporte". Bem, então tenho uma notícia para todos nós: descobri que também somos limitados, deficitários, nesse palco cósmico/terreno! Somos deficientes-fraternos e deficientes de caráter! E isso, amigos, é grave, gravíssimo, pois daí vêm todos os males, as querelas, disputas, falta de visão, brigas, admoestações infundadas, guerras, matanças, poucos casos e preconceitos (estes piores, pois machucam o não físico, que demora mais que este a se curar).
Eis o que somos nesse mundo Paraolímpico! Menos para o bem, que para o mal!

Ainda conseguiremos reverter isso, como reverteu o maestro?


Gazy Andraus, São Vicente/SP, 10/09/16



[1]Professor da da FIG-UNIMESP - Centro Universitário Metropolitano de São Paulo; Doutor em Ciências da Comunicação pela USP; mestre em Artes pela UNESP, pesquisador do Observatório de HQ da USP; INTERESPE – Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação; Interculturalidade e Poéticas de Fronteira e autor independente de HQ fantástico-filosófica.  yzagandraus@gmail.comhttp://tesegazy.blogspot.com/