quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A complexidade das HQs contra o senso comum de que elas são simplórias


A HQs têm extrema complexidade, tanto em sua estrutura linguística e de elementos, como de conteúdo, pendendo entre o literário escrito e o imagético (desenhado). Mas as HQs não são literatura. E vice-versa! Em minha tese expliquei que os desenhos e a ambivalente leitura panvisual de uma história em quadrinhos fornece em cada página um estímulo que ativa áreas cerebrais distintas provendo uma inteligência mais complexa e sistêmica (já que os hemisférios trabalham em conjunto). O aprendizado de conceitos básicos atuais da ciência cognitiva (e quântica) deveria ser obrigatório na educação formal, pois sem tais embasamentos, muitas teorias em diversas áreas, se tornam meras repetições de padrões antigos que não se atualizam, e que em realidade, sob as luzes da ciência hodierna, se perpetram como erros simplesmente por continuar uma crença que se pensava ser correta. Um exemplo são as próprias HQs e seu uso cada vez mais procurado nas escolas. Pois na década de 1970 essas mesmas HQs eram não só evitadas como impedidas de serem lidas, com argumentos de que seriam perniciosas já que atrapalhariam os estudos. Na atualidade os quadrinhos são usados em aulas e incentivados pelo governo ao adquirirem-nos pelo PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola). Ora, não foram as HQs que mudaram, e sim o conceito da inteligência humana acerca de suas reais potencialidades. Tais conceitos atualizados têm a ver com premissas de estudos cognitivos, os quais vieram na esteira da mudança de visão paradigmática da física clássica à quântica, que proveu a própria ciência das possibilidades tecnológicas de se elaborar tecnologias mensuráveis das potencialidades humanas e o que ocorre nas nossas mentes derivado do que nos influencia.
Assim, como diz no texto de Paulo Ramos (11.09.13 - HQs trabalham conteúdos de forma superficial, diz Instituto Pró-Livro - http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/), as declarações de Zoraya Failla, gerente-executiva do Instituto Pró-Livro (órgão que reúne editoras e que patrocina a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil), de que as HQs podem trabalhar os conteúdos de forma superficial, e de que tal “ferramenta” (a HQ) pode servir para trazer os jovens para a literatura ou para temas mais “complexos” é equivocada por ser incompleta e reducionista no pior sentido, pois tal pensamento reflete o padrão antiquado sem atualização dos conceitos pertinentes à própria ciência, que envolve novos saberes atinentes à forma como a mente trabalha e às ferramentas que nela atuam. A saber, os desenhos estimulam a criatividade hemisferial direita do cérebro, e tanto quem os faz, como quem os assimila (“vê”, “lê”, “absorve”) exponencia sua mente no quesito criatividade. Ao mesmo tempo, como uma página de história em quadrinhos é diagramada de imagens que se sucedem e aparecem concomitantemente, estimulam na leitura um processamento visual tanto central como periférico, já que o olhar perpassa o quadrinho em que focaliza enquanto sua visão lateral se mantém no(s) quadrinho(s) anterior(es), que narra(m) o passado, como no(s) subseqüente(s), aventando o futuro, já que a diagramação por página os envolve numa complexidade visual rica e imagética mas quase que não-linear.

Trecho de minha tese As histórias em quadrinhos como informação imagética integrada ao ensino universitário/2006, em que explico a complexidade visual não -linear de uma página de HQ (incluindo sequência do filme "Quem somos Nós" e HQ da série "X-Men" de Chris Claremont e John Byrne).
Aliado a isso, há os textos fonéticos na HQ que são lidos pelo hemisfério esquerdo (racional e linear), o que acaba por tornar mais complexa ainda a leitura de uma história em quadrinho, estimulando de maneira até agora não totalmente mensurada pela ciência atual através da tomografia computadorizada. Ainda assim, sabe-se que estão medindo as ondas alfa de monges budistas ao meditarem, e de outras atividades, mas as experiências com leituras de imagens e textos, em separado já realizadas, comprovam a atuação dos hemisférios da maneira com que explicitei (inclusive descobriram que a leitura dos ideogramas chineses se realiza mais pelo hemisfério direito – que é como se lessem imagens - do que pelo esquerdo, pelo qual se assimilam os fonemas da escrita ocidental), e portanto, sendo os chineses desenvolvedores criativos (pólvora, massa etc), não se pode negar que a leitura de desenhos (ideogramas idem) estimula essa inteligência mais complexa a que me referi. Assim, obviamente a leitura de quadrinhos não é uma ferramenta para outras linguagens, mas por si só é uma ferramenta autosuficiente. E se aliada a outras, como asseverou Zoraya Failla, gerente-executiva do Instituto Pró-Livro, se torna mais rica e complexa do que aparenta seu senso-comum memetizado de que os quadrinhos são menos complexos. Menos complexidade eles têm se colocados pelo viés de seus textos escritos apenas, em paralelo à leitura fonética cartesiana, sim. Mas como a leitura das páginas de uma HQ não se resume aos fonemas nelas encontradas, e sim aliam-se estes (que algumas vezes até inexistem) aos desenhos, a assertiva da gerente-executiva se mostra falha e preconceituosa por desconhecer as atualizadas informações acerca de como funciona a mente humana. Pois a imagem, como expliquei, amplifica e instiga os hemisférios cerebrais num profícuo amálgama de deliberações cartesiano/criativas amplificando o imaginário do leitor, que pode recriar outras contextualizações interdisciplinares, retroalimentando sua inteligência mais do que meramente pela racionalidade linear. O mesmo o faz a literatura tradicional ao incentivar as mentes a criarem enquanto leem...mas nas HQs, os “vãos” dos quadrinhos que existem neles também estimulam o leitor a imaginar e criar outras passagens que inexistem na história panvisual...além dele absorver os desenhos do autor que os elaborou, de uma maneira que ainda precisa ser pesquisada com mais acinte pela tomografia computadoriozada científica. E isso se estende às outras artes, cada qual com suas particularidades elementares aduzidas devido às incorporações, por exemplo, de sons e movimentos (as artes das animações e dos filmes) etc.
Este esclarecimento meu, vem ao encontro da problemática que apontou Paulo Ramos em seu blog nessa data (acima mencionado), lembrando que tais preconceitos sem base científica corroboram, como ele falou, numa “interpretação que tem pautado políticas governamentais de uso dos quadrinhos no ensino, entre elas o PNBE”, o que é um erro grave pois pontua uma qualidade limitada a um veículo de comunicação de massa (mas também artístico, pois autoral), que não deve ser limitado a determinados temas como trampolins desses ou daqueles, e sim, estimulado a ter suas qualidades usadas para um melhor usufruto à expansão da educação em geral, principalmente sistêmico-criativa! Para tanto, não se deve crer que se busquem HQs apenas como ferramentas de auxílio, por exemplo, à leitura de livros, e nem que sejam apenas adaptações literárias, e sim, que as HQs possam ser usadas devido às suas próprias qualidades autônomas de arte e potencial panvisual, conforme explicitei.
Para mais esclarecimentos, sugiro a leitura de minha tese: http://tesegazy.blogspot.com.br/2008/11/tesegazy.html, a qual custou-me três anos de desenvolvimento e um quarto para a reorganização e finalização dela, embasada pelas leituras não só das áreas afins (HQs etc), como também da ciência cognitiva e aportes teóricos acerca das mudanças paradigmáticas da física clássica à quântica, e que encontrou ecos na necessidade de mudanças nos rumos educativo-pedagógicos.

Gazy Andraus, 11/09/2013, São Vicente-SP