domingo, 9 de setembro de 2012

Inconseqüência e inconsciência






Voltei a São Vicente, vindo de São Paulo na noite de quarta-feira, dia 5 de setembro de 2012. O ônibus levou quase uma hora a mais para chegar ao centro da cidade, pois havia uma aglomeração de caminhões na entrada de Santos, depois de Cubatão, devido talvez à antevéspera de feriado da independência. Pois, ao chegar caminhando no centro da Primeira Vila Fundada (e “afundada” politicamente falando) do Brasil, à Praça Barão do Rio Branco, pouco depois das 22hs, qual não foi meu susto e indignação ao me deparar com tamanha sujeira nas ruas e na praça, cujo movimento cotidiano é intenso durante o dia. Sempre me deparo com a sujeira, mas nesse dia, excluindo-se que não era sábado e nem feriado ainda, estava demais. Lembrei-me de quando estive no Líbano em 2010 e presenciei um país também com bastante lixo em algumas localidades: lá, devido à guerra civil que durou 20 anos, a população se descuidou de questões essenciais, e muitos que foram morar depois, apesar de religiosos, parece que não se preocupam nos quesitos mais básicos de limpeza e organização (para que serve a religião, então? Só para cultuar Deus – ou que quer que tenha nome essa energia universal - e se descuidar do resto?). Assim, quando voltei à brasilidade, meu choque foi perceber que aqui, sem guerra mesmo a se justificar, a população agia igual, sujando as calçadas e o que pudesse, numa clara demonstração que independe o país, a população e a religiosidade (pois aqui também, um povo que se diz católico, mas que não cuida da limpeza), e sim, a educação perdida (claro, há culpa numa governabilidade corrompida que não colabora na educação e na saúde). Para mim, quando se professa qualquer que seja a religiosidade, isto se bastaria para servir de prumo e orientação mais básica, no quesito de limpeza e organização a fim de uma manutenção de convívio pleno e salutar entre as pessoas de uma nação. Vide que ateus, por não se direcionarem à nenhuma espiritualidade, ainda assim, se pautam por uma índole racional e conseqüente, e portanto, sabem respeitar as pessoas e cidades (falo isso, por ter um ou outro amigo ateu possuidores de um caráter excepcional). Mas, afinal, percebi que isso independe: tanto no Líbano como aqui no Brasil, a massa ignara de pessoas não têm consciência formada!
O sistema capitalista as faz gastarem a esmo, sem raciocinarem, sem profundidade, e apenas para aplacar instantaneamente seus desejos consumistas, egóicos e de gula, mascarando um pobre e deficiente desenvolvimento interno de estado psicológico, em que suas agruras, temores, humores e desequilíbrios são trocados por rápidos e fugazes momentos de prazer consumista desenfreado. O educador Ruy Cezar do Espírito Santo costuma advertir que falta um desenvolvimento em que as pessoas saibam conectar seu ego a seu Self, de acordo com a premissa de Carl Gustav Jung. Eu concordo: o ego parece primário, infantil e astuto, e deveria servir ao Self, que é um “Eu” mais sábio do ser humano, pois mais divinizado, complexo, quântico e atinente ao universo (ser univérsico como diria Huberto Rohden). Sim, como não sabemos disso, e não temos estímulos de educação para tal (de “educere”, que  significa trazer de dentro para o afloramento de uma educação que jaz em cada um de nós adormecida), aliado ao pouco que ganhamos nos salários suados, somos estimulados aos gastos ensandecidos para aplacar a frágil estrutura psicológica (obviamente, eu me encontro nessa também, sempre tentando debelar essa falta). Até aí é uma etapa do problema: a outra é o mazelo com que lidam com os refugos de suas aquisições, em especial as embalagens dos produtos, sejam alimentares e/ou gerais (nesse quesito, busco consumir menos e jogar as embalagens nos depositários de lixo espalhados pelas urbes).

Vejam nas fotos e filmagem que fiz – sim: ao chegar no meu apartamento, decidi voltar à rua, quase às 23hs, para tentar registrar o descalabro, a prova de uma sociedade inconseqüente, infantil, domada e direcionada apenas aos atos de consumo sem nem raciocinar nos rastros de destruição que para trás (e para o futuro) deixam!






Não seria já hora de nossas mídias, nossas escolas, faculdades etc abordarem uma educação verdadeira, e não essa irreal e que apregoa o ensandecimento competitivo sem percepção nas conseqüências?
Tirem vossas conclusões. Eu ainda creio numa humanidade que virá, preservando e criando, sem descuidar das conseqüências...sim, sou espiritual, no sentido univérsico (de Rohden) e quântico-ativista (no sentido de Amit Goswami), e questionador (no sentido de Krishnamurti). Também busco a paz (como Gandhi), e a ação decidida, como a de guerreiros de luz (e não de arrebatamentos físicos). Mas essa última atividade ainda estou longe de conseguir fazer fluir. Enquanto isso, busco me orientar aos afazeres e à divulgação daquilo que julgo errôneo e que precisa ser realmente visto e revisado, como esses descalabros que ocorrem nessa cidade que resido há mais de 37 anos! E que, claro, servem de alerta e exemplo a todas as outras espalhadas pelo nosso país. E não finalizo sem antes deixar um recado aos que se dizem nossos políticos (e aos que pleiteam sê-lo e re-sê-lo): cuidado, porque essa “gula” de vocês por um lugar a esse “sol” que buscam (o dinheiro, é claro), está com os dias contados! A população brasileira já não suporta mais essa condição desigual e esse desequilíbrio entre vossos salários e os deles, entre os trabalhos que eles têm e as falsas atividades que vocês simulam e ensejam no pleito da falsa política que vocês abarcam. Cuidado, porque o limite já passou até, e é questão de (pouco) tempo para que isso desmorone de uma vez! Os sinais já estão aí, incluindo essa sujeira nas ruas e a falta de uma vida equilibrada que ofusca e nubla as mentes das pessoas, colocando-as como zumbis...se vocês que desejam cargos na vida política não começarem a pensar realmente no que quer dizer tal função, e trabalharem de verdade para a harmonia da polis, vocês mesmos serão também engolfados por essa aberrante vida desproporcionada, e serão arrastados como glutões ensandecidos que são...vide minha HQ “Terra & Plantio”, e entenderão! Vou parafrasear uma frase encontrada nessa obra de Goya: “O sono da educação cria monstros”!

E aqui minha HQ:





Gazy Andraus, início de setembro de 2012.