sexta-feira, 27 de maio de 2011

Thor – tura!


Não o filme. Eu o assisti duas vezes: a primeira no áudio digital no cinema. Houve uma mescla no roteiro de fases do herói do gibi – e obviamente um tanto do mito original nórdico, como o fez Stan Lee, seu criador para os quadrinhos. Porém, é de se deixar claro que este Thor do cinema pertence à Marvel, portanto um super-herói, que faz parte da formação dos Vingadores, um super-grupo. Tudo criado na fase do final da década de 1960 por Stan Lee e seus contemporâneos. O filme é muito bem dirigido por Kenneth Brannagh, mas a fala pomposa com um inglês que usa “tu” (“thou”) não aparece no filme. Em compensação, nos quadrinhos isso ainda se utiliza (pelo menos até a fase que conheço, de Walter Simonson, um dos melhores roteiristas e desenhistas norte-americano de super-heróis, com um estilo muito pessoal). O visual de Asgard com a ponte Bifrost é impecável e muito belo. O filme me pediu para ser revisto justamente por sua beleza e estética visual. As falhas principais que percebi – em especial duas gritantes – e que na verdade não eram falhas, mas sim recursos comerciais (que me irritam), foram

a) o capacete de Thor que só é mostrado no começo e depois não mais. Provavelmente para que o rosto do ator loiro atraia mais espectadoras ao cinema. Onde está o capacete quando Thor recobra seu martelo no fim do filme (com um rápido e inverossímil desenvolvimento de qualidades que ele não tinha, como compaixão e maturidade)? Por que o elmo não surgiu junto com o resto do paramento do herói?

O outro deslize (proposital, mas do qual sou contrário), é a música-rock ao final, um heavy-pop fraco (acho que do grupo Foo Fighters). Ora, o filme é baseado num herói que é uma espécie de Deus, que remonta e se reestrutura a partir de um mito nórdico. Para isso, como um épico, a trilha sonora do filme instrumental (que não é do referido grupo) está ótima, mas para o final, quando começam os letreiros e sempre aparece um rock associado a um filme de super-herói, porque não buscaram um grupo de heavy metal que apologiza sons coerentes com esse tipo de temática (épica)? Há inclusive, uma música ideal, que cujo título homônimo “Thor” de Manowar, poderia ter sido usada e fecharia magistralmente o filme. Essas manias dos produtores visarem detalhes pop e comerciais extremos, mas que não se justificam e não casam com os temas tem me deixado irritado com nosso sistema (e com a falta de coerência das produções artísticas, como essas). É comercial, sim, mas nem por isso deixa de lado um trabalho esmerado e cuidadoso, em muitos casos, como deram a esse filme. Isso porque baseado em quadrinhos, e os fãs de HQ não são bobos: têm conhecimento de mitos, de ideais etc. Ou será que estou só nesse pensamento? Pois agora, numa segunda parte desse texto, vou expor o que aconteceu-me no cinema, mostrando um pouco essa nossa juventude “extraviada”…

Gazy Andraus, 27 e 28 de maio de 2011.



Thor-tura-1!

Agora sim, para entenderem melhor a razão desse trocadilho!

Fui ao cinema pela segunda vez assistir o filme mencionado. Da primeira, foi em Goiânia-Go, e agora, de volta a minha cidade de São Vicente-SP, me deparo sem opção quanto aos filmes serem todos dublados. Parece um consenso: o único centro de compras da cidade é o que abriga os cinemas. E por sua vez, pensando que os habitantes de minha cidade são semi-analfabetos, não há mais a opção de filmes legendados por aqui…somente na cidade de Santos, que é maior e mais turística. Até aí, paciência! Fui assistir mesmo assim, e em 3-D devido ao horário, não por minha opção. O filme Thor é enganador com relação a isso: não produziram nada em 3-D à exceção do título do filme na abertura. Uma maracutaia para tirarem facilmente mais dinheiro do público, já que as sessões em que passam filmes 3-D são mais caros.

Enfim, a pior parte vem chegando: sentei-me ao lado de várias pessoas, tendo uns 4 jovens rapazes adolescentes à minha direita. Eles falavam bastante antes de começar o filme. Aguardei para ver se se aquietariam…mas não! O primeiro a meu lado era o mais agitado. Porém, antes de eu me virar para eles, e polidamente pedir-lhes que abaixassem a voz nas falas, visto que o filme era dublado, percebi que desconheciam totalmente Thor. Isto me fez lembrar que são da geração de meados para o fim da década de 1990 e cresceram embebidos de animes e mangás, quase que exclusivamente. Porém, isso não é um mal. Mal é que o universo deles se tornou extremamente limitado. Pareceu-me que ao nascerem, pensaram que o mundo (e o cosmo) se iniciou na década de 1990 com eles, numa ciência creacionista mais exagerada (se é que isso se pode conceber). Eles bradavam a todo momento alusões do filme a animações japonesas como Naruto, Goku e Cavaleiros do Zodíaco. Essas eram as bases e referenciais deles…a esses jovens, Thor é uma “cópia” misturada de elementos de animes famosos com os quais tomaram conhecimento!

Não parecem conhecer mitologias…nem greco-romanas, nem nórdicas...apenas a televisiva. Visto, por exemplo, que a própria série Cavaleiros do Zodíaco é uma mescla pós-moderna de mitologias universais de vários povos!

Esse dia, a ida ao cinema me foi uma aula importantíssima. Percebi que:

1- Nossos jovens não têm educação alguma, pois em qualquer lugar que estejam, se postam como se estivessem em suas casas…e se isso é verdade, pior ainda, pois demonstra que em seus lares não devem se respeitar e nem respeitar o próximo (familiar) passando por cima de todos e de tudo ao mesmo tempo;

2- Não existem motivações que lhes informem realmente de nossas origens como espécie humana, nossas bases míticas, nossas possibilidades de evolução nesse orbe, e inqurimentos que nos façam dosar a moral, ética e questionamentos ulteriores.

Isso, claramente, é fruto de um pernicioso sistema educacional manco, que se esforça em atirar informações sem trazer os interesses primordiais. Porém, agora tal descalabro compete com a Internet e a possibilidade desses jovens de navegarem a esmo…buscando informações, mas sem formação. Perigo iminente, porque serão eles os capitães (i)maturos de um destino no qual forjarão a continuidade de nossas civilizações, sem o mínimo embasamento e sem o mínimo cuidado (ecológico, então, nem se fale).

É um quadro sombrio: as criatividades possíveis das mentes desses jovens largadas sem um lastro, jogadas a esmo. Imagino que na política, por exemplo, serão o equivalente a esses homens incultos que nem sabem onde ficam a região norte e nordeste no mapa do Brasil (como nos foi mostrado uma vez quando repórteres do programa CQC perguntaram a deputados tal informação, mostrando-lhes um mapa, ao qual apontavam para o centro-oeste ao dizerem que ali estava a região norte, por exemplo).

Esse é um quadro grave, e só vejo uma solução bem interessante, comungando o que meu amigo pesquisador e artista multimídia Edgar Franco disse numa entrevista. Que seria interessante termos uma disciplina nas escolas, desde o início da infância à adolescência que tivesse a ver com criações de mundos fantásticos:

“A cada nova criação assim me sinto mais tolerante para com as pessoas em geral, me vejo mais doce, menos presunçoso, a minha empatia cresce no mundo real na medida em que surgem novas personagens em meu mundo ficcional! Eu sugiro aos educadores uma disciplina obrigatória chamada “Criação de Mundos Ficcionais” que deve ser ensinada em todas as séries dos ensinos fundamental e médio, considero uma disciplina como essa tão importante quanto matemática e português”. (vide em: http://www.jornalopcao.com.br/posts/opcao-cultural/um-artista-pos-humano )

Isso auxiliaria os jovens nas criações, mas não só. Eu aliaria a essa proposta que as bases dessa disciplina fossem os mitos universais que Joseph Campbell nos cansou de mostrar como importantes, e Carl G. Jung nos trouxe como impulso dos inconscientes coletivos. Seria uma disciplina que amalgamesse a possibilidade de criar universos fantasiosos, desenvolvendo o senso imaginativo e criativo dos jovens, e também o reconhecimento por parte deles de todos os mitos possíveis universais: desde religiosos como a Bíblia cristã, o indiano Baghavad ghita, o I-Ching e Taoísmo, os Egípcios, passando pelos greco-romanos e nórdicos, africanos, aos orientais e extremo-orientais, bem como os nativos indígenas do Brasil. Por exemplo: se Zeus (greco-romano) é senhor do Olimpo, equivalente a Odin em Asgard (pai nórdico de Thor), nosso Tupã poderia ser a contraparte indígena de Thor etc. Com isso, a base das morais e éticas que existem nessas narrativas míticas não se perderiam, pois que trazem instruções intuídas a nossas mentes criativas e rcaionais, moldando-nos com mais propriedade e maturidade, e não nos jogando ao léu de uma existência a qual desconhecemos tudo e não temos como dialogar e criar (porque senão, para nós, tudo seria uma variante dos Cavaleiros do Zodíaco, apenas!).

É, caros, nossas escolas se perderam e se esqueceram de criar…as narrativas, as histórias míticas trariam de novo o desconhecido e o criativo, aliado ao que já existe e à base racional que já desenvolvemos, pois se isso não fosse importante, para que ficamos criando filmes, desenhos e contos e toda sorte de histórias? Deveríamos excluir tudo isso (e até a música) e ficarmos apenas com o “essencial” imediatista e racional que nos supriria: construções racionais e matemáticas que edificam casas para nos abrigar, e economias alimentares e combustíveis para nos mantermos sem fome e em constante trânsito…apenas isso, uma vida árida de autômatos num estágio bem primário!

Somos robôs?

Duvido muito disso. Mesmo porque, os cientistas não se contentam com tais engendros...querem elaborar o “Robô” que pense como humano: o que contenha uma Inteligência Artificial não retilínea, mas paraconsistente...e criativa!